Em entrevista à BBC News Brasil, o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Thomas Shannon avaliou que as relações entre Brasília e Washington vivem um momento de reaproximação, após um período de tensões diplomáticas. Segundo ele, o diálogo recente entre Lula e Donald Trump indica uma tentativa dos dois países de fortalecer os laços bilaterais.
“Considerando onde estava a relação em agosto e no início de setembro, acho que estamos em um momento muito positivo”, afirmou Shannon. “Os gestos que você mencionou foram feitos pelo presidente dos Estados Unidos e depois pelo presidente do Brasil. São gestos muito importantes, porque sinalizam para uma burocracia maior a direção que os dois líderes querem tomar na relação.”
O diplomata destacou que o telefonema e o encontro entre Lula e Trump durante a Assembleia-Geral da ONU foram fundamentais para mudar o tom das conversas entre os governos. “Parabéns ao presidente Trump, porque o que ele fez, ao estilo Trump, foi transformar um problema bilateral entre dois países em um encontro pessoal positivo”, disse Shannon, acrescentando que o movimento foi “muito inteligente do ponto de vista diplomático”.
Recuo de Trump sobre Bolsonaro
Shannon apontou dois fatores principais para a mudança de postura de Donald Trump em relação ao Brasil. O primeiro, segundo ele, foi o reconhecimento de que não conseguiria interferir no processo judicial de Jair Bolsonaro, que está impedido de disputar eleições por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O encontro na ONU quase certamente foi planejado — se não pelo presidente Lula, com certeza pelo presidente Trump”, disse o ex-embaixador. “Acho que Trump entendeu que foi mal informado ou induzido ao erro [ao sancionar o Brasil] e que caberia a ele tirar os EUA dessa situação e tentar criar uma solução.”
Ao comentar sobre os pedidos de Trump para anular o julgamento de Bolsonaro, Shannon afirmou que a pressão foi retirada “pelas ações das instituições brasileiras”. “Acho que Trump entendeu que sua tentativa de intervir em processos criminais e eleitorais no Brasil não iria prosperar.”
O diplomata explicou ainda que o tema perdeu relevância porque o Brasil deixou claro que não iria ceder, e o STF manteve sua posição em relação ao ex-presidente. “Uma vez que isso ficou evidente, o que os Estados Unidos poderiam fazer?”, questionou.
Impactos econômicos e pragmatismo político
Para Shannon, a mudança de tom também teve motivações econômicas e políticas. Ele lembrou que as tarifas impostas por Trump ao Brasil afetariam não apenas consumidores americanos, mas também empresas dos EUA que dependem de produtos brasileiros.
“As tarifas se tornariam cada vez mais controversas e desafiadoras, especialmente se o Brasil não desse sinais de ceder — e o Brasil não deu sinais de ceder”, afirmou.
Apesar das divergências recentes, Shannon avaliou que os dois países vivem um momento de otimismo diplomático. “O fato de Lula e Trump planejarem novos encontros e deixarem claro que pretendem trabalhar para fortalecer a relação deve ser aplaudido”, concluiu.
